Museus da região do Cariri se tornam referências de preservação patrimonial e gestão para os jovens
- japaratubaemrede
- 9 de set. de 2015
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Dentre tantas experiências vividas durante a visita técnica à Fundação Casa Grande, uma foi primordial para estimular a compreensão sobre a importância de preservar e valorizar o patrimônio cultural: conhecer espaços que guardam a memória de um povo e de uma região. Começando pela própria Casa Grande, que tem como porta de entrada o Memorial do Homem Kariri, guardião da ancestralidade e da essência de um povo. O Memorial funciona na primeira casa construída em Nova Olinda, no século XVIII. Em ruínas desde o ano de 1975, a casa pequenina e com poucos cômodos foi restaurada em 1992, sendo ela mesma a obra principal do Museu, que preserva a história do homem do vale do Cariri, expondo um acervo doado por moradores da região e composto por peças líticas e cerâmicas, fotografias e lendas contadas por crianças.


E por falar em crianças, que participação genial elas têm no funcionamento do Memorial. Do cuidado com a estrutura física, passando pela administração até a recepção dos visitantes revelam um entendimento e um prazer pelo que fazem, motivados pela educação patrimonial que recebem através de aulas de arqueologia, mitologia, museologia e conservação do patrimônio. Esse encontro dos jovens japaratubenses com os meninos e meninas do Memorial do Homem Kariri foi um misto de admiração, estímulo e reconhecimento. A jovem Iale Alves ficou admirada com a preparação da pequena Yasmin ao apresentar cada espaço e cada elemento que compõe o memorial. “Ela é muito nova e conhece tão bem aquilo que está mostrando pra gente. Isso serve de estímulo e exemplo para que a gente busque cada vez mais conhecer a nossa história e a nossa cultura e principalmente nos envolvermos mais com as iniciativas que já desenvolvemos na nossa cidade”, afirma.


A visita pela história da terra Cariri não parou no homem da região. Aspectos interessantes da fauna e da flora estavam a alguns quilômetros de distância dali de Nova Olinda, no Museu de Paleontologia de Santana do Cariri. Administrado pela Universidade Regional do Cariri (URCA), ele fica localizado na cidade de Santana do Cariri. Fundado em 1985, em 1991 foi doado à URCA, e alguns anos depois, através do projeto de implantação do Complexo Paleontológico da Chapada do Araripe, tornou-se propulsor da pesquisa paleontológica, na divulgação da ciência e no apoio à cultura do Cariri.

Todo o acervo, composto por fósseis de troncos petrificados, impressões de samambaias, pinheiros e plantas com frutos; moluscos, crustáceos, aranhas, escorpiões e insetos; peixes; anfíbios e répteis, provenientes, principalmente, das formações Missão Velha e Santana da Bacia do Araripe, foi visto e admirado pelos jovens de Japaratuba, especialmente as réplicas em tamanho real de dinossauros, possibilitando imaginar como eram esses seres. Mas além de ter acesso a todo esse conhecimento sobre a vida pré-histórica da região do Cariri, acessível a todos os visitantes, havia um olhar apurado para a condução e a desenvoltura dos jovens monitores do museu, detentores de muito conhecimento sobre o que apresentavam ao público e sobre as referências paleontológicas do lugar onde vivem. Curiosidades sobre o que estava por traz daquele acervo incrível, a exemplo do funcionamento administrativo do museu e da formação dos monitores que recepcionam os visitantes, rendeu uma conversa bastante produtivas entre os jovens sergipanos de Japaratuba e os jovens guias. “Além de ficar admirado com cada peça desse museu, foi muito importante conversar e saber de que forma eles trabalham para manter tudo tão organizado e para estarem tão preparados para passar todo esse conhecimento para quem visita o museu. Esse momento da viagem está sendo incrível”, afirma Graziele Francisca dos Santos.

A memória e o patrimônio da região do Cariri trazem aspectos culturais muito fortes que são revelados também através da arte e do fazer artístico. As peças produzidas pelo mestre Espedito Seleiro são um bom exemplo disso. Nas suas mãos, o couro se transforma em peças modernas e estilizadas, revelando o ciclo pelo qual passou a sua produção, que teve início com a confecção de peças utilizadas por vaqueiros, tropeiros e ciganos. Esse caminho da manufatura que tem o couro como matéria prima é um importante referência na região do Cariri, podendo ser contemplada e compreendida a partir de uma conversa com o mestre Espedito lá na sua loja e em uma visita ao Museu do Couro, ambos em Nova Olinda. Essa história, observada nas peças e ferramentas da família de Espedito e nas fotografias que retratam o caminho das boiadas, foram trazidas na mala pelos jovens do projeto Japaratuba em Rede, que ao conhecerem a fundação Casa Grande também conheceram suas iniciativas e parcerias como a que criou o Museu do Couro.

A evolução das peças confeccionadas pelo Mestre Espedito, que desde criança produzia apenas celas, gibões e chapéus, que com o tempo entraram em desuso, comprometendo o sustento da família e fazendo com que o artesão passasse a produzir calçados, bolsas e outros acessórios, que saíram de Nova Olinda direto para as passarelas nacionais e internacionais. “Eu continuei fazendo o que eu gosto e sempre soube fazer. Mesmo mudando o tipo do produto que eu era acostumado, continuei trabalhando e criando com o couro. E isso é o mais importante. Não deixei nem a minha profissão, nem a minha terra e as pessoas ainda gostam das coisas que eu faço”, afirma Espedito.

Após ouvir a trajetória do artesão, conhecer a sua produção e contemplar cada detalhe do Museu do Couro, o jovem José Antônio Filho traçou um paralelo com o que vem sendo discutido ao longo do projeto sobre a inovação dos produtos a partir do que é tradicional no município de Japaratuba. “Assim como Espedito fez quando não deu mais para produzir chapéus e selas, nós do projeto podemos criar outras coisas que chamam mais atenção das pessoas que irão comprar os nossos produtos. Por exemplo, podemos criar outras coisas com a palha ao invés de fazer apenas vassouras. Vamos ter que inovar para ter sucesso, mas sem esquecer as nossas referências”, planeja Antônio.
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